quarta-feira, 30 de maio de 2012

Migração do consumo para a qualidade



Comprar verduras e frutas em supermercados é bem desanimador, falta padrão e qualidade. Normalmente o que atrai o consumidor são os anúncios de preços baixos, as tais superpromoções em dias fixos da semana. Mas as frutas e as verduras que encontramos nesses dias não são de alta qualidade e carecem de boa apresentação, com louváveis excessões. De tão barato que são os preços ofertados que eu chego a duvidar que o agricultor tenha lucro com essas vendas.


Mas esta situação está mudando. É cada vez mais comum para consumidores que buscam mais qualidade, sabor e diversidade, deixar de comprar frutas e verduras nos supermercados. Esses consumidores preferem as quitandas (em Minas Gerais quitanda refere-se a doces) ou verdurões especializados.

Frutas e legumes bem apresentados
Ali encontram produtos limpos, em um bom ambiente onde estão bem à vista do cliente. A boa qualidade  e todo o cuidado com os produtos, faz com que os preços praticados fiquem acima dos encontrados nos supermercados (vendedores de volume), mas nem tanto. Estes estabelecimentos florescem pelo Brasil e não são ameaçados pelos gigantes do varejo, pois estão em um nicho de mercado como as padarias e as lojas especializadas em Vinhos.

Os consumidores que fazem compras semanais de frutas e verduras em quitandas querem qualidade e principalmente informação sobre o que estão consumindo. Querem saber se o melão está bom, se a alface crespa está mais macia que a lisa e porque a banana está mais cara que na semana passada. Recebem atendimento personalizado por quem entende do assunto. Informação esta, que fideliza e dá tranqüilidade ao consumidor esclarecido.

O que ocorreu neste segmento, foi uma migração do consumidor do Supermercado para as Quitandas na busca por qualidade.

Acredito que isso tem que acontecer com a carne bovina urgentemente, pois o modelo do velho e bom açougue sofreu muito com os supermercados. Foram praticamente aniquilados em muitas praças e isso ocorreu por vários motivos, entre eles: despreparo no atendimento e na apresentação da carne ao consumidor, informalidade, falta de padrão, mas principalmente devido aos baixos preços que muitos supermercados praticaram.  Alguns açougues que tinham fornecimento próprio de mercadoria, continuaram fortes e com freguesia cativa, outros fracassaram.

Vejam a dificuldade do setor, os açougueiros compram carne no mesmo lugar que os supermercados (dos frigoríficos obviamente) mas em um volume muito menor e por isso tem que pagar mais pelo mesmo produto.

Surpreende hoje em dia, a baixa qualidade da carne encontrada nos grandes varejistas, normalmente mal apresentada, escondida no fundo da loja, sem informação, sem padrão e cada vez mais cara. E pior, muitas vezes a carne está mal acondicionada em geladeiras que não mantém o produto a menos de 7 graus Celsius e com prazo de vencimento muito curto. Comprar carne em supermercados definitivamente não é prazeroso.

Notem a qualidade dessas embalagens - Uruguai Abril 2012
Noix ou Entrecot porcionado (Uruguai - Montevideo) Abril 2012
Entendo que um novo modelo de venda de carnes já está "acontecendo", de várias maneiras diferentes e em vários lugares pelo Brasil afora, é uma tendência que veio para ficar. Ainda não foi encontrado o mix ideal para estas lojas ou açougues modernos, pois carne combina com Vinho, Cerveja, Pães, Queijos finos, mas o que uma loja de carnes deve mesmo ter? Para mim é simples: carne bovina (e porque não suína e de aves também) de altíssima qualidade, tanto para o dia-a-dia quanto para o churrasco. Este é o ponto-chave. Contudo, marcas de carme não são simples de serem construídas, mas são factíveis e os pecuaristas estão dispostos a colaborar.

Os empresários das lojas, açougues ou boutiques de carne, devem buscar construir um sourcing próprio. Devem pensar e mirar em alta qualidade e em bons preços. Para isso, terão que participar mais ativamente da cadeia da carne, como fazem os verdureiros e vendedores de fruta nos seus segmentos. Do contrário ficarão presos ao modelo atual, onde é mais fácil pegar o telefone e ligar para um frigorífico e pagar o preço do dia, sem saber que animal gerou aquela carne, qual era a idade, qual o criador, se o gado era confinado ou se era de pasto... Enfim, sem ter garantia real de qualidade, sem ter a especificação clara de qual produto está comprando. Se não sabe o que está comprando, com detalhes, não pode fornecer informação fidedigna para o consumidor.

Há um grande número de admiradores da carne bovina que anseiam por melhores açougues, que querem e podem pagar por um produto melhor e gostariam de ter um atendimento mais especializado. Comprar carne é legal, é como escolher vinhos. É lúdico até. O problema é ter onde ir.

Picanha de macho 5/8 Angus - 19@, 4 dentes - Lençóis Paulista - São Paulo
Acredito que os grandes frigoríficos não podem ficar estáticos e deveriam investir em Marcas de Carne que tenham padrão, não só de embalagem, no peso das peças, no acabamento (espessura da gordura nos cortes nobres), mas sim basear a produção de suas marcas em: raças (grau de sangue), dieta e sistema de produção (pasto ou confinado), idade do bovino e peso de carcaça (padronizando as peças). Porque na verdade, marcas de carne são construídas antes do frigorífico.

Classificação por raça, pois no Uruguai o gado é Angus e Hereford no Brasil normalmente a carne que leva selo dessas raças é oriunda de animais Cruzados com Zebu: meio sangue ou 3/4, o que não é um problema, mas deveria ser informado.

Um abraço,

Paulo

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