sexta-feira, 1 de junho de 2012

Transporte de Bovinos 2


Mais alguns detalhes sobre transporte de gado, vou abordar nesse post de forma bem concisa, os veículos de transporte.


Carreta de dois andares: muito usada hoje em dia. O problema do embarque está no desnível do piso inferior (há um degrau) e na rampa para o segundo piso que se não estiver em linha reta em relação à boca do embarcadouro, causará enorme transtorno no embarque.




Carreta de um andar: é
 a melhor opção no mercado do Brasil. Leva mais de 30 bois e é rápida para embarcar e para desembarcar. Não precisa de choque, infelizmente o sujeito da foto não pensa assim.




Caminhão boiadeiro: é versátil e fácil de embarcar, mas me preocupa a idade média da frota, que passa de 20 anos. Precisamos modernizar os caminhões e isso passa por política setorial. A desvantagem é que só leva de 16 a 18 bois gordos e encarece o frete.



Vou comentar um pouco mais sobre os problemas das carretas de dois andares, as campeãs em reclamações (por parte dos produtores brasileiros) devido a grande quantidade de contusões que geram nos bovinos transportados:


Há um degrau no piso inferior dessas carretas, o que faz com que os bovinos empaquem ao notá-lo. Quando isso acontece o manejador (ou o motorista da carreta) dá choques para fazer com que os animais desçam para o próximo compartimento. Na seqüência, há um outro compartimento que para ser acessado os bovinos tem de subir um outro degrau. Isto gera novo transtorno, pois os animais mais uma vez refugam e levam mais choques e cutucões.





desenho do piso inferior de uma carreta de dois andares


Para embarcar o piso superior há novo problema, pois muitas carretas têm a rampa de acesso posicionada de lado, obrigando os bovinos a fazerem uma curva para subirem. Estas rampas obrigatoriamente deveriam estar alinhadas com o embarcadouro.


Abaixo há fotos de carretas usadas na Australia e Estados Unidos. São carretas sem desnível no piso e no caso mostrado são conjugadas, o que facilita a conferência dos animais durante o transporte. Nesses veículos as operações de embarque e desembarque são rápidas e tranqüilas. O objetivo é preservar os animais e garantir a qualidade futura do produto carne bovina.







Enfim, o setor frigorífico brasileiro deveria investir ou incentivar o desenvolvimento de melhores carrocerias (gaiolas), pois o conforto do animal dentro do caminhão é fundamental para que as carcaças deixem de sofrer tantas injurias. Talvez uma ação conjunta entre frigoríficos, empresas que fabricam esses equipamentos e pesquisadores poderia levar ao desenvolvimento de carretas mais confortáveis para os bovinos. 


Os embarques e os desembarques devem ser rápidos e para que isso ocorra o design interno das carretas tem que ser amigável para os bovinos.

Até breve,

Paulo


Transporte de Bovinos para Frigoríficos




Normalmente o cálculo que se faz para decidir, qual o melhor caminhão para se transportar bovinos, é o da quantidade de animais que cada caminhão pode acomodar. O setor de logística e transporte muitas vezes não tem parâmetros diferentes para avaliar a não ser o custo do quilometro rodado considerando quantos bovinos estão sendo transportados ao mesmo tempo.



As contusões de carcaça, começam a acontecer no embarque, seguem ocorrendo durante a viagem e podem também ser ocasionadas no desembarque.
Entendo que alguns fatores podem ser adequados visando minimizar estes problemas, que podem variar de contusões leves a graves ou causar a morte do animal.
Em alguns trabalhos que fiz, sugeri a mudança da rota de viagem entre o confinamento ou a fazenda e a planta frigorífica, quando é possível a alternativa. Deixando de usar a estrada de terra, que pode ter distância mais curta, e optando pelas estradas asfaltadas. Ganha-se tempo. No asfalto o caminhão (ou a carreta) freia menos, o ritmo da viagem é mais constante e a velocidade média é maior o que aumenta a ventilação na “gaiola” e melhora o conforto térmico para os bovinos.
Conhecendo o Brasil e a infeliz situação de nossa estradas temos de dar novos parâmetros para a decisão da rota a ser tomada. O que importa não são os quilometros que o caminhão trafegará e sim quantas horas ele ficará na estrada. Quanto menos tempo o bovino ficar enclausurado no caminhão, menos água, eletrólitos e conteúdo rumenal ele perderá. Menor será o estresse e maior será a reserva de glicogênio que este animal terá, sendo este fator primordial para a qualidade da carne.
O ideal para o bovino é ficar até 8 horas em transporte, respeitando-se a densidade de carga ideal ao redor de 400 kg/m2, mas isso ainda depende de outros fatores. É apenas um direcionamento.

Para melhorar as condições dos bovinos que chegam às plantas frigoríficas, sugiro focarem em:
  • Redução do tempo sem água a que o bovino será submetido: trazendo o boi para o embarque o mais perto possível da hora de chegada dos caminhões. Essa deve ser uma ação coordenada entre fazenda e frigorífico.
  • Na qualidade e rapidez do embarque: o ato de embarcar é estressante para os bovinos. É fora da rotina. No dia do embarque o curral tem de estar em ordem, adaptado para os bovinos. A equipe de manejo tem de estar treinada, ter calma e evitar o uso de choques, de gritos e de ações improvisadas. 
  •  O tipo da carreta influenciará o tempo de embarque: caminhões e carretas de um andar são mais fáceis de serem carregados que carretas de dois andares. Entre as carretas de dois andares as que possuem escada ou rampa em linha reta com o embarcadouro são bem mais fáceis de embarcar que as que possuem escada “de lado”.
  • A viagem: O ideal é que a viagem do confinamento (ou da fazenda) ao frigorífico seja direto, sem paradas. Quando a carreta para, o calor dentro da gaiola (onde estão os bois) sobe muito, aumentando o desconforto dos animais. Evitar que o transportador pare é a melhor opção. Forneçam refeição de boa qualidade aos motoristas dos caminhões nas fazendas, antes de sair para o frigorífico. Dêem sucos, refrigerantes, enfim, façam com que eles tenham menor necessidade de parar. Reduzir o tempo de viagem é o objetivo, mas sem sacrificar o motorista.
Abaixo mostro uma estimativa de perda de peso em transporte baseado em diversos trabalhos científicos e na minha experiência profissional. A maior perda de peso ocorre nas primeiras três horas da viagem, mas segue ocorrendo até o final.
As perdas de peso e a queda na qualidade da carcaça se acentuam de acordo com o aumento no tempo de viagem.
Fatores como temperatura ambiente, condição das estradas, sexo dos animais, densidade de carga e o tempo sem alimentação e água podem acentuar ou diminuir estas perdas de peso.



550,00
KG
HORA 1
1,00%
5,50
544,50
HORA 2
1,00%
5,45
539,06
HORA 3
1,00%
5,39
533,66
HORA 4
0,30%
1,60
532,06
HORA 5
0,30%
1,60
530,47
HORA 6
0,30%
1,59
528,88
HORA 7
0,30%
1,59
527,29
HORA 8
0,30%
1,58
525,71
HORA 9
0,30%
1,58
524,13
HORA 10
0,30%
1,57
522,56
HORA 11
0,30%
1,57
520,99
HORA 12
0,30%
1,56
519,43
HORA 13
0,30%
1,56
517,87
HORA 14
0,30%
1,55
516,32
HORA 15
0,30%
1,55
514,77
HORA 16
0,30%
1,54
513,22
HORA 17
0,30%
1,54
511,68
HORA 18
0,30%
1,54
510,15
HORA 19
0,30%
1,53
508,62
HORA 20
0,30%
1,53
507,09
HORA 21
0,30%
1,52
505,57
HORA 22
0,30%
1,52
504,05
HORA 23
0,30%
1,51
502,54
HORA 24
0,30%
1,51
501,03






Kg perdidos
48,97



8,90%
Transporte de gado é um assunto complicado, mas para que as perdas diminuam os pecuaristas têm de se envolver mais e acompanhar o gado até o momento do desembarque no curral do frigorífico. Na chegada às plantas de abate, muitas vezes chegam vários caminhões ao mesmo tempo o que pode levar a longas esperas para desembarcar, prejudicando ainda mais o estado dos bovinos transportados.
Um abraço,
Paulo